domingo, 14 de março de 2010
Uma rolha contra o delit(r)o de opinião
Estou nos antípodas deste Santana Lopes.
Se ontem não escondi aqui uma certa admiração pelo estilo e pela forma de PSL fazer política, hoje não posso deixar de verberar a lamentável proposta de alteração dos estatutos do PSD que ele apresentou e o congresso de Mafra aprovou - com a reveladora complacência da senhora que está prestes a terminar a sua comissão de serviço e dos três candidatos à presidência do principal partido da oposição (o outro, o tal que não sabe o que é a crise, não conta para este campeonato).
Depois de um primeiro dia de debate vivo, com elevação e mobilizador do “país laranja” - que acompanhei, a espaços, pela TV -, hoje fui surpreendido pelo regresso do “velho PSD”. Era escusada aquela nódoa santanista a borrar a pintura toda...
Proibir os cidadãos filiados num partido, seja ela qual for, de criticar as opções e as escolhas do directório partidário nos 60 dias anteriores a um acto eleitoral não lembra nem ao diabo. É a “lei da rolha” pura e dura. Esta sim! Ei-la: a verdadeira “asfixia democrática”, que a maioria dos portugueses nunca entendeu bem o que era.
Trata-se de uma habilidade estatutária que condiciona o debate político e menoriza o PSD. Uma regra de duvidosa constitucionalidade, aliás. Mas é, sobretudo, um retrocesso perigoso, perverso mesmo, nomeadamente se contagiar outros partidos, a começar pelos do “arco do poder”. E ainda falam eles de Sócrates e do PS… Chiça!!!
Mas, infelizmente, no PS/Famalicão deve haver gentinha capaz de tamanha enormidade e de aplaudir esta deriva estalinista de PSL.
Como alguns camaradas meus gostavam que eu me calasse… Eles até são democratas e socialistas, bons rapazes e chefes de família, o que toleram mal é a crítica; principalmente, se for expressa em público. Já me fizeram saber, tolerantes e politicamente correctos, que estou autorizado a pensar pela minha própria cabeça e a dizer o que me vai na alma, mas com uma condição: só posso falar como quero no interior do PS. Lá fora, nunca. Jamais! É intolerável que escreva nos jornais “contra o partido”.
Lamentavelmente, para esses camaradas meus - que, ao que ouvi dizer, voltam agora a insistir na ideia peregrina de o PS lançar em Famalicão um novo jornal -, aquele espaço de crónica jornalística que me esforço por manter, há vários anos, n’O Povo Famalicense, é coisa do diabo e, por isso, devo ser condenado à fogueira.
Santana Lopes, pelo menos, só propôs a “lei da rolha” como forma de calar e de “disciplinar” os seus companheiros inconvenientes. Deve julgar, como alguns socialistas de Famalicão, que é assim que num cortiço se protegem as abelhas-mestras das críticas - ou das facadas, como aquelas que sofreu quando substituiu Durão Barroso depois deste ter dado à sola para Bruxelas.
Pois está redondamente enganado!, dr. Santana Lopes. Digo eu, que sou do PS há quase 36 anos, consigo separar trabalho dos deveres partidários com facilidade, não misturo conhaque com ganha-pão e nunca fiz “fretes” a ninguém durante os mais de 14 anos em que fui jornalista profissional - incluindo nesta contabilidade os cerca de cinco meses em que trabalhei n’O Liberal.
Eles não sabem nem sonham…
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário