Corriam poucos dias do ano de 1975. Um sindicalista, militante da CGTP ainda antes do 25 de Abril, dirige-se à sede do PS com a intenção de se filiar. Ao assomar nas escadas, ouve alguém lá em cima dizer: “Ó doutor, passe aí o papel”. Dá meia volta e regressa a casa: nunca faria parte de um partido de doutores!
Esse sindicalista dava pelo nome de Alcino Cruz, e foi nosso camarada por muitos anos, depois de o termos convencido de que a expressão “doutor” tinha sido usada na brincadeira. De facto, tratávamos toda a gente por camarada; os “doutores” e “engenheiros” e “arquitectos” nem no PPD cabiam.
Os tempos são outros, bem sei. Mas não deixa de me soar estranho, muito estranho, ouvir camaradas dirigirem-se uns aos outros, ou nomearem outros, empregando esses descabidos títulos. Afinal, nem isso nos distingue já da Direita?
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